Alunos especiais recebem cuidados e amor na pandemia

Alunos especiais recebem cuidados e amor na pandemia

Compartilhe:

Foi uma surpresa e tanto para Gustavo Antunes dos Santos, 14 anos, Wesley Muniz Oliveira, 13 anos e Gustavo Gonçalves Branco, 12 anos. Os três estão matriculados na Escola Municipal de Educação Básica CAIC Nossa Senhora das Graças, no bairro Guarujá, em Lages e são alunos especiais. Lá, uma iniciativa da Secretaria Municipal de Educação tem mudado a rotina do isolamento social dessas crianças e de suas famílias além de emocionar as professoras de Educação Especial que dela participam. A operação começou a ser idealizada nas primeiras semanas de março a partir de uma constatação que afligia a secretária Ivana Michaltchuk e as profissionais lotadas nos 17 polos de Educação Especial de Lages. Todas se angustiavam diante do fato de que a quarentena impedia os estudantes especiais de receberem o olhar cuidadoso das professoras através das quais acabam sendo inseridos na sociedade. Surgiu, ali, a partir de uma grande dor de cabeça, com o total apoio do prefeito Antônio Ceron, a ideia das visitas quinzenais aos alunos usando um ônibus escolar como meio de transporte. E entregando a cada um deles, em 308 casas espalhadas por todos os bairros, entre os quais o Guarujá, o maior deles, uma cesta básica de alimentos, artigos de higiene, material didático e muito carinho.
Protegidos por jalecos de TNT coloridos, usando máscaras, toucas e luvas de borracha, os corajosos membros da “expedição” lembram figuras de ficção científica ao obedecerem às regras de segurança e higiene preconizadas pela OMS (Organização Mundial de Saúde). Mafalda, Pablo Gomes, secretário de Comunicação da prefeitura, e eu podemos garantir que isso realmente está sendo feito, com base na visita realizada no dia 19 deste mês, no bairro Guarujá, da qual participamos.

Primeira parada

Casa de Gustavo Antunes dos Santos, 14 anos, que tem paralisia cerebral. Ele não fala, não caminha, não consegue pegar nada com as mãos. Mas abre um grande sorrido quando consegue identificar a professora Nireila das Graças Pereira por atrás da máscara. Nireila é o que se denomina de professora de apoio, facilitadora para alunos como Gustavo. Falando carinhosamente, ela puxa a mão do menino sobre a sua que é apertada com força pelo menino.
Gustavo vive sob os cuidados da avó Eva Teresinha Vieira, 67 anos. Ela sente falta, sim, das tardes livres de antes da pandemia, quando podia fazer suas coisas enquanto o neto recebia atendimento do pessoal da Educação Especial fora de casa. Mas faz questão de declarar todo seu grande amor ao neto: “Se vocês quiserem me matar tirem o Gustavo de mim. Cuido dele mais do que se cuida um passarinho. Meu falecido marido dizia que Deus jogou o Gustavo lá de cima e ele caiu em cima da nossa casa”.

Segunda parada

Wesley Muniz Oliveira, 13 anos, tem diagnóstico de Síndrome de Down e recebe atendimento desde os 4 anos de idade. Apesar da quarentena, a mãe, Angelita, dá uma boa notícia às professoras: “Esses dias ele escreveu na parede da garagem e achei a letra dele bem bonita”.
Assustado com o grande número de visitantes presentes no jardim de sua casa – em torno de 10 pessoas –, ele cruza a porta de entrada e fica espiando a movimentação das pessoas lá de dentro, através da janela. Só larga o posto de observação por insistência da professora Nireila, que não resiste e lhe dá um abraço. As professoras entregam as cestas básicas de alimentos e de higiene e material didático.

Terceira parada

Quem recebe a comitiva da Educação Especial é Maria das Graças Gonçalves, avó de Gustavo Gonçalves Branco, 12 anos e cego. A visita coloca em destaque uma das integrantes da comitiva, a professora de apoio Lisiane Berteli da Silva. Formada em pedagogia e pós-graduada em deficiência visual e psicopediatria ela trouxe a máquina de escrever em braile da escola. É para Gustavo matar a saudade do tempo anterior à quarentena, quando dividia seu tempo entre usar a ferramenta para escrever suas poesias, e tocar violino e violão. O fotógrafo Antonio Carlos Mafalda pede que ele escreva algo na máquina. E sai, em braile uma frase: “Respeito é melhor que preconceito”. O poetinha também recebe uma pasta com folhas de material poroso e figuras para identificar através do tato e um texto em braile que é desafiado a ler. Arrematando a lista de “presentes” surge um soroban –, espécie de ábaco utilizado há muitos anos pelos japoneses em cálculos matemáticos – e que é manipulado com destreza pelo menino numa conta de somar.

Em busca do conhecimento revelador

Chama a atenção, nesta história, a quase obsessão das professoras em se qualificarem cada vez mais para decifrar o universo das crianças especiais. Somente assim, é verdade, podem ajudá-las na inserção social, uma determinação constitucional.
Aos 41 anos de idade, e com dois filhos, a professora Eri Campos, coordenadora da Educação Especial da Secretaria de Educação local, não consegue parar de estudar, a exemplo do que ocorre com a maioria de suas colegas. “Precisamos de conhecimento para ajudá-los”, justifica. Com especialização em pedagogia clínica, e em atendimento educacional especializado, é mestre em educação, com a dissertação focada em educação especial. No momento, está fazendo a terceira especialização, agora em neuropsicopedagogia. Aja fôlego e amor.
Nosso reconhecimento a todos os profissionais da Educação Especial.

Texto: Imara Stallbaum
Fotos: Antonio Carlos Mafalda

Compartilhe:

Compartilhe esta postagem

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *