Pomar de seu João é exemplo de responsabilidade sócio ambiental

Pomar de seu João é exemplo de responsabilidade sócio ambiental

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Um negócio sustentável, rentável e que nasceu da união da CT&I (Ciência, Tecnologia e Inovação) com uma dupla de agricultores familiares determinada.

Essa bem que poderia ser a definição do pomar de maçãs Fuji e Gala orgânicas do sítio Sant’ Ana, de João Reichert e de Maria Beatriz Gáss Reichert, na localidade de Boava, a 17 quilômetros do centro de São Joaquim. Eles adquiriram a propriedade no início dos anos 2000 com o propósito de nela produzirem somente alimentos orgânicos, a começar por maçãs.

A primeira colheita aconteceu em 2004, de forma quase experimental. De lá para cá, o sítio tornou-se parceiro oficial da Epagri (Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina).

– Sempre tivemos influência da Epagri. Os técnicos promoviam viagens para o Rio Grande do Sul, onde a agroecologia estava avançada. No início, a gente se espelhou nas práticas e nas experiências dos gaúchos. Hoje já somos aqui uma unidade de observação da extensão rural da Epagri de São Joaquim e das unidades de pesquisas de São Joaquim e Caçador – vangloria-se o agricultor. Significa dizer que cada novidade ocorrida em sua terra é compartilhada pelos extensionistas da empresa com produtores de maçã orgânica vizinhos.

Consumidores ávidos por saúde A Região de São Joaquim conta com 2 mil produtores de maçã convencional. De uns tempos para cá, porém, juntamente com Fraiburgo, vem demostrando vocação também para o desenvolvimento da cultura orgânica da maçã. Já são 20 pomicultores certificados e permanentemente acompanhados pelo extensionismo da Epagri.

Foi sempre assim com seu João, que hoje aos 66 anos de idade é praticamente o pioneiro entre eles. Em 2020 ele colheu 35 toneladas e neste ano (2022), 40 toneladas, sempre no mesmo pomar de 1,5 hectare, onde as abelhas ajudam na polinização das macieiras. Toda a colheita é canalizada para o litoral catarinense, onde suas maçãs orgânicas são disputadas por apreciadores de alimentos saudáveis e causadores do menor impacto ambiental possível em sua produção. As frutas fora de padrão seguem para indústrias de suco e de vinagre do Rio Grande do Sul.

Para registrarem faturamento semelhante ao do sítio Sant’Anna os produtores convencionais necessitam colher cinco vezes mais maçãs. Trata-se de um negócio tão rentável quanto sustentável, sem dúvida, mas nem por isso menos trabalhoso. A começar pelo fato de que os pomicultores orgânicos precisam estar sempre prestando atenção nos pomares para detectarem o possível aparecimento de doenças nas plantas:

– Aqui não tem aquilo de ir na agropecuária e comprar um produto para resolver problemas nas frutas. Não existem aqueles preparados que se compra na loja para isso ou aquilo. No orgânico a gente muitas vezes tem que formular uma mistura para pulverizar – explica seu João.

No início dos anos 2000, quando viajaram ao Rio Grande do Sul a convite da Epagri, ele e dona Maria Beatriz conheceram – e acabaram adotando – a única arma então existente para evitar a mosca-das-frutas, a técnica do ensacamento. O principal inseto praga das macieiras deixa os frutos atacados por ele com boa aparência, mesmo estando ruins no interior.

Pesquisa daqui e dali, um dia o pessoal da Epagri apareceu com uma proposta para trocarem o método do ensacamento, que consiste em colocar e retirar os saquinhos sistematicamente, por uma novidade. Foi assim, com a garra de seu João e a ajuda dos extensionistas que o sistema de envelopamento do pomar com tela entrou em cena:

– Quando surgiu a ideia do envelopar, tínhamos o custo do ensacamento. Mas fazendo as contas dos custos do envelopamento percebemos que em cinco anos o investimento se pagaria. Na época ele saiu por R$ 96 mil o hectare – relembra.

Longa lista de conquistas A diminuição dos custos de produção e o aumento da produtividade é a parte visível de uma longa lista de conquistas da pomicultura orgânica, nas três últimas décadas, com a ajuda da CT&I, como explica o engenheiro agrônomo Marlon Francisco Couto, gerente regional da Epagri de São Joaquim.

– A pesquisa que mais auxiliou foi o monitoramento de pragas e doenças, a utilização de métodos de controle alternativo a pragas e doenças, e o projeto de melhoramento genético da macieira, que desenvolveu variedades resistentes às principais doenças da árvore, permitindo a obtenção de frutos de qualidade para a produção orgânica – demonstra Marlon, acrescentando.

– Todas as inovações desenvolvidas para o setor da maçã em geral decorrem de tecnologias oriundas de pesquisa científica. Existem vários tipos de inovação, mas elas tiveram base na ciência através da experimentação agrícola. Nesse processo, a CT&I foi responsável pelo melhoramento genético da macieira, pelo monitoramento de pragas e doenças, pela fertilidade do solo e pela nutrição da macieira, além do uso de feromônios no controle de pragas. Feromônios são substâncias químicas produzidas para fora do corpo que, ao serem disseminadas, promovem determinadas reações em meio a indivíduos de uma mesma espécie.

Outras contribuições citadas pelo engenheiro agrônomo envolvem o crédito e a extensão rural, e o aporte de políticas públicas do governo federal através do (Pronaf), bem como programas da Secretaria de Estado da Agricultura da Pesca e do Desenvolvimento Rural.

Embora hoje sem a companhia de dona Maria Beatriz, falecida há seis anos, seu João se sente em paz quando pensa que agiu certo ao optar pela produção de maçãs orgânicas. Afinal, agiu de forma sustentável e trabalha diariamente com responsabilidade sócio ambiental.

Há quase dois anos ele participa da Acolhida na Colônia, associação de agricultores focada na valorização do modo de vida no campo através do agroturismo ecológico. Como tal, vem recebendo grupos de 25 pessoas por vez por conta da parceria. Já recepcionou gente de vários municípios catarinenses, como Florianópolis e Criciúma, interessada em participar do programa Portas Abertas. O evento inclui o Colhe-Pague de maçã, mais a venda de produtos elaborados no sítio Sant’Ana, bem como em propriedades vizinhas, como queijos, geleias, vinhos, sucos de uva e vinagre de maçã.

Texto: Imara Stallbaum

Fotos: Antonio Carlos Mafalda

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