Agricultura familiar de Anchieta é modelo no combate às desigualdades sociais

Agricultura familiar de Anchieta é modelo no combate às desigualdades sociais

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No mapa, ele é apenas um pequeno município do extremo Oeste catarinense, distante 745 quilômetros de Florianópolis, que privilegia o cultivo de milho crioulo e usa o balonismo para encantar seus visitantes. Na prática, é um gigante. Registra nada menos que a maior incidência do país em iniciativas – 16 ao todo – de apoio à agricultura familiar, à agroecologia e à promoção da segurança alimentar e nutricional. As iniciativas dizem respeito a ações articuladas entre entes públicos municipais e sociedade civil organizada para combater desigualdades sociais.

O destaque de Anchieta em relação às práticas agroecológicas registradas no território nacional, mapeadas e sistematizadas pela ANA (Articulação Nacional de Agroecologia) chegou a merecer um artigo científico publicado este ano no Open Edition Journals (Jornal de Edição Aberta).

Intitulado “Uma lupa sobre a política agroalimentar do município de Anchieta sob a perspectiva da inovação social”, o trabalho é assinado por Julie Rossato Fagundes, professora da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) em Chapecó, doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Administração da UFSC, em Florianópolis. Além de Julie, o texto leva a assinatura dos pesquisadores Silvio Antonio Ferraz Cario e Alexandre Marino Costa.

A avaliação da ANA acaba endossando o modelo agrário adotado por Anchieta, avesso ao uso de agrotóxicos, à derrubada de florestas para privilegiar a monocultura e plenamente favorável à agricultura familiar.

Colonizada a partir da década de 1940 por descendentes de italianos saídos do Rio Grande do Sul, e fundada em março de 1963, Anchieta optou pela produção de grãos e pelas agroindústrias familiares associativas. O milho foi o primeiro cereal cultivado e até hoje muitos produtores guardam as sementes daquela época. Por causa dele, no final dos anos 1990, os agricultores se mobilizaram para conseguir o reconhecimento e o resgate das sementes crioulas dessa planta. O movimento contou com o incentivo do Sindicato dos Trabalhadores na Agricultura Familiar (Sintraf) e se opunha ao uso de adubos químicos, de agrotóxicos e de sementes comerciais utilizados peloa agricultura tradicional.

O episódio é considerado um marco na história municipal, mas não menos que a criação da Cooperanchieta ocorrida em 28 de agosto de 2008. Presidida hoje por Vilmar Paulo Piovezani, a Cooperativa Agrícola de Anchieta possui 64 associados e quatro colaboradores “Ela nasceu para ser referência na organização social, na produção e comercialização de alimentos de qualidade em Anchieta e região”, informa a técnica em agroecologia Roselei Ronsoni Wille, coordenadora do setor de produção da instituição. A cooperativa é parceira do município na realização de eventos e na construção de leis que estimulam e garantem sustentabilidade, informa ela.

Não à-toa, a Cooperanchieta é uma das entidades envolvidas no processo de obtenção da Indicação Geográfica do milho crioulo para a região de Anchieta. Além dela, com o mesmo objetivo, aparecem o Sebrae, a UFSC e a Prefeitura local.

Texto: Imara Stallbaum

Fotos: Antonio Carlos Mafalda

 

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Comentário (1)

  • Vilmar Paulo piovezani Resposta

    Parabéns pela matéria ficou muito linda a mensagem que precisamos transmitir
    E parabéns aos agricultor que mantém a semente como patrimônio

    agosto 8, 2023 em 7:41 pm

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